Brasil no ranking do empreendedorismo: pesquisa com 54 países revela que um em cada quatro brasileiros adultos é empreendedor.
Assim, o país perde apenas para China e Estados Unidos.
O Brasil possui 27 milhões de pessoas envolvidas ou em processo de criação de um negócio próprio. Portanto, podemos perceber que um em cada quatro brasileiros adultos é um empreendedor. É o que revela a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2011 (GEM).
Esta pesquisa foi divulgada em julho, e é realizada anualmente pelo Sebrae Nacional em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). Nesse sentido, o objetivo é medir o comportamento dos empreendedores em vários países.
Esse número coloca o Brasil, por exemplo, em terceiro lugar no ranking do empreendedorismo, entre os 54 países analisados na pesquisa. Desse modo, o País perde apenas para a China. Esta lidera o levantamento, com 370 milhões de empresários. Já os Estados Unidos ocupam a segunda colocação, com 40 milhões.
Brasil no ranking do empreendedorismo por necessidade ou por oportunidade?
Sabe um dos fatos mais interessantes revelados pela pesquisa? O brasileiro está empreendendo mais por oportunidade do que por necessidade.
Em 2011, para cada empresa aberta por necessidade, outras 2,24 foram resultados da visão de mercado do empreendedor. Nesse ínterim, o consultor do Sebrae/PR, André Basso, diz que há dez anos, segundo a mesma pesquisa, esta relação era de um para um. “Isso é fruto de movimentos econômicos, como a expansão do número de empregos. Em síntese, isso faz com que a população tenha opções. Ao mesmo tempo, o Brasil tem hoje um ambiente econômico favorável para se empreender. Como resultado, muitas pessoas estão empreendendo por oportunidade”, explica Basso.
Deisiane Zortea – Secretária Remota e o Brasil no ranking do empreendedorismo
Foi o que aconteceu com Deisiane Zortea Kuckla, que depois de 12 anos trabalhando como secretária executiva, decidiu abandonar a carreira. Ela abriu a própria empresa e se tornou uma secretária remota e assistente virtual. Dentre os serviços ela oferece suporte administrativo, sem precisar estar na empresa contratante. Trata-se de uma função que até então não existia no Paraná. A mudança aconteceu há um ano e meio e com planos traçados, depois que Deisiane fez várias pesquisas e procurou o apoio do Sebrae/PR, em Curitiba.
“Essa ideia surgiu porque percebi que as pequenas empresas têm dificuldades para resolver problemas burocráticos e organizar a vida empresarial”, conta.
Com o home-office, 80% do trabalho de Deisiane são virtuais. Ela compra passagens, cuida de e-mails, faz agenda, cotações, compras, pagamentos de contas e negociações. Para isso, usa a internet, telefone fixo e celular. Com clientes em Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Florianópolis em Santa Catarina, utiliza o skype para fazer reuniões. Ferramenta que permite conectar-se e visualizar pessoas em qualquer parte do mundo através do celular. Trabalhando no limite de seu tempo, Deisiane atende no máximo dez clientes a cada mês. O que, segundo ela, garante a qualidade do serviço oferecido. Em alguns momentos conta com a ajuda do marido e já pensa em contratar uma pessoa para auxiliá-la. Principalmente na área de divulgação em redes sociais. Deisiane acredita que a função de secretária virtual é uma tendência de mercado e está otimista com o futuro da empresa.
“A atividade já começou bem, nunca precisei correr atrás de clientes. Hoje vivo um momento em que sou obrigada a postergar atendimentos.”
Com a agenda de setembro lotada, a empreendedora, que recebe por hora trabalhada, só está marcando novos serviços para o mês de outubro. Para dar conta da demanda, ela diz que trabalha das 8 às 17 horas, diariamente. Com a vantagem de não precisar sair de casa.
Empresas Consolidadas
O número de brasileiros que possuem um negócio consolidado no mercado é um dos maiores entre os 54 países pesquisados pelo GEM 2011.
Nesse sentido, o Brasil ocupa a quarta colocação no ranking. São 12 milhões de pessoas proprietárias de empresas em funcionamento há mais de três anos e meio. Logo em seguida, somando 11 milhões, estão os chamados novos empreendedores, que possuem negócios de 3 a 42 meses de operação. Por outro lado, os empreendedores nascentes, que realizaram alguma ação visando ter um negócio próprio nos últimos 12 meses, ou que têm uma empresa com até três meses de atividade, somam 4 milhões. De acordo com a Pesquisa GEM, a tendência é de expansão e evolução do número de empreendedores brasileiros. Sejam eles em início de atividade ou estabelecidos. Esse crescimento já vem sendo registrado anualmente desde 2007, com exceção do ano passado quando houve uma diminuição da taxa.
Em 2010, o empreendedorismo chegou a 32% da população adulta. Índice que caiu para 27% no ano passado, em função do aquecimento do mercado de trabalho, queda do desemprego e aumento dos salários.
Escolaridade
André Basso, do Sebrae/PR, explica a Pesquisa GEM 2011. Ela indica que quanto maior o nível de escolaridade menor é o comportamento empreendedor dos brasileiros.
Isso se dá, segundo ele, porque com mais graduação as pessoas acabam tendo mais oportunidades de bons empregos. O que não as estimula a empreender. Com isso, o que se percebe no Brasil é que a taxa de empreendedorismo entre as pessoas que estão iniciando um negócio é maior nas faixas de escolaridade mais baixas. A taxa de empreendedorismo inicial chega a 15% da população adulta que possui apenas o ensino fundamental, de acordo com o GEM. Nesse mesmo grupo, a taxa de empreendedores já estabelecidos é de 7%. No outro extremo, a taxa de empreendedorismo inicial entre as pessoas que possuem pós-graduação é de 10% da população adulta. Enquanto entre os empreendedores estabelecidos com a mesma escolaridade esta taxa chega a 16%.
Para Basso, os índices comprovam que quanto maior a escolaridade do indivíduo, maior é a sua chance de ter sucesso na empreitada. “Com mais escolaridade as pessoas têm mais acesso à informação, capacidade de analisar as situações de risco, além de não terem a urgência nos resultados.”
Brasileiro Inova Pouco
O número de empreendimentos voltados para a inovação ainda é pequeno no Brasil, se comparado com o restante do mundo, segundo o consultor do Sebrae/PR. Essa característica faz com que o país seja classificado na Pesquisa GEM pela eficiência, com sua economia impulsionada pelo desenvolvimento industrial. Onde as atividades de comércio e serviços predominam. Assim como o Brasil, outras 23 nações integram essa posição intermediária. Nos dois extremos, de acordo com a segmentação do levantamento, estão sete países considerados fornecedores de matéria-prima. Por terem suas economias voltadas para a agricultura e extração de recursos naturais. Outros 23 se destacam em inovação por terem como principal característica a aplicação do conhecimento e da tecnologia.
Uma prova de que o brasileiro inova pouco é que apenas 6,8% dos empreendedores iniciais introduzem alguma novidade em seus produtos. O que ajudaria a gerar algum impacto no mercado e reduzir a concorrência.
Essa realidade coloca o Brasil na penúltima posição entre os 54 países pesquisados – só ganha de Bangladesh, no sul da Ásia. Quando comparado com os outros 23 países que compõem o grupo eficiência, o Brasil fica na última posição, quando o assunto é inovação. Basso acredita que vários fatores contribuem para que o brasileiro dê pouca importância para a criação de novos produtos. Um deles é cultural, seguido do nível de escolaridade. Por fim, mas não menos importante, o fato de o país ter um grande mercado consumidor. “Com um amplo mercado, o empreendedor brasileiro consegue vender seus produtos, mesmo que eles não sejam inovadores”, explica. Isso contribui, portanto, para a boa colocação do Brasil no ranking do empreendedorismo.
Exportação de produtos
O Brasil também não tem posição de destaque quando se leva em conta a exportação de produtos. A Pesquisa GEM mostra que entre os 24 países segmentados pela eficiência, o Brasil tem o menor nível de internacionalização. Com 93,91% dos empreendedores revelando que não possuem nenhum consumidor no exterior. Entre os 54 países pesquisados, o Brasil ocupa a 50ª posição nesse ranking. O país de maior inserção internacional é a República Tcheca, que pertence ao grupo inovação. Apenas 10,76% das empresas não vendem para consumidores estrangeiros. Com uma realidade completamente diferente, a Guatemala é o país com menor orientação internacional.
De acordo com a Pesquisa GEM, é difícil comparar os números do Brasil com os demais países quando se trata de internacionalização. Isso porque além de ser um país com dimensões continentais, o Brasil tem apresentado um alto consumo interno. Isso garante demanda para a produção local, possui uma posição geográfica isolada de grandes mercados. Tem uma pauta de exportação concentrada em poucas empresas de commodities agrícolas, aviação ou minério.
Empreendedorismo Jovem — Brasil no ranking do empreendedorismo
Dos 27 milhões de empreendedores brasileiros, 14,4 milhões são jovens e têm de 25 a 44 anos de idade. Outros 3,4 milhões ficam na faixa etária de 18 a 24 anos, 6 milhões na de 45 a 54 anos e 3,3 milhões, de 55 a 64 anos de idade. O GEM mostra que o maior número de empreendimentos iniciais está concentrado entre as pessoas que possuem de 25 e 34 anos de idade. Enquanto os negócios estabelecidos pertencem a empreendedores que têm de 45 a 54 anos. André Basso diz que o fator idade é um aspecto conhecido da pesquisa. “Antes dos 24 anos o comportamento empreendedor é menor porque normalmente as pessoas que se enquadram nesta faixa etária não possuem capital para empreender. Assim como depois dos 44 anos também diminui o ímpeto de empreender e correr riscos”, explica.